Instabilidades política afastam investidores da infra

Dos 33 ativos leiloados pelo Ministério da Infraestrutura neste ano, compradores externos levaram só oito. Fenômeno deve se repetir em 2022, dizem analistas sobre investidores

SÃO PAULO E BRASÍLIA — O cenário político, com eleições em 2022 e as incertezas sobre a estratégia econômica do próximo presidente, além da volatilidade do câmbio (que dificulta precificação de ativos com receita em reais) estão fazendo os investidores estrangeiros puxarem o freio em relação às novas rodadas de concessões previstas no Brasil.

Consultores, advogados e economistas consultados pelo GLOBO avaliam que a presença de fundos de investimento, empresas e consórcios que planejavam entrar no país deve ser limitada nos próximos leilões. Segundo esses especialistas, a presença dos estrangeiros deve se restringir a grupos que já operam no país.

O governo nega e diz que os estrangeiros estão entrando no Brasil não só como operadores, mas também como financiadores dos projetos.

— Temos uma demanda enorme por investimentos em infraestrutura, mas não vejo novos players estrangeiros participando com força nas próximas licitações. Eles vão esperar a eleição para ver quem será eleito e qual será a equipe econômica — diz Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria.

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Ele cita o risco ambiental, a instabilidade institucional e macroeconômica — com quadro fiscal ruim e volatilidade do dólar — como entraves à chegada de estreantes em leilões no país. Quanto ao meio ambiente, afirma, o governo destruiu a reputação brasileira no cenário internacional, elevando as incertezas para que novos operadores aportem seus recursos aqui.

Volatilidade do dólar

Na semana passada, o risco ambiental a santuários como Fernando de Noronha e Atol das Rocas afastou novos investidores do leilão de exploração de campos de petróleo da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Dos 92 blocos oferecidos, apenas cinco foram arrematados pela Shell e a colombiana Ecopetrol, que já operam no país.

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Nas últimas rodadas de concessões, o interesse dos gringos “novatos em Brasil” já vinha diminuindo. Dos 33 ativos leiloados pelo Ministério da Infraestrutura neste ano, a maioria teve investidores locais como vencedores. Os estrangeiros ficaram com apenas oito ativos — e todos já operam no país.

— Mesmo com os esforços do governo federal para trazer inovações, melhorias nos novos projetos e os roadshows, talvez não tenhamos um número significativo de entrantes. Mas isso não significa que estes projetos não serão bem-sucedidos, pois temos operadores consolidados no país — diz a advogada Claudia Bonelli, sócia na área de infraestrutura do escritório TozziniFreire.

Há, porém, entraves como a precificação dos ativos. Se o dólar em alta (na semana passada a moeda americana bateu R$ 5,53, maior cotação desde abril) torna os ativos brasileiros mais baratos, essa volatilidade afeta o planejamento financeiro para que os estrangeiros façam seus lances.

— Como não se sabe quem ganha a eleição em 2022, é natural que os novos investidores aguardem um ano para entrar no país — acrescenta Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV.

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O país tem 11 leilões na área de transportes neste ano — dois projetos rodoviários e nove arrendamentos portuários. O destaque é a Nova Dutra, que será concedida em conjunto com a Rio -Santos.

Também estão previstos leilões de petróleo, entre eles a segunda rodada do leilão do excedente da cessão onerosa, marcada para 17 de dezembro.

Para 2022, estão programadas a relicitação do aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN), as concessões rodoviárias das BRs 116, 493 e 465, entre Rio de Janeiro e Governador Valadares, a desestatização portuária da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) e de 16 aeroportos, entre eles Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ).

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