
Antes basicamente restrito a partidos e movimentos de esquerda, a mobilização pelo afastamento do presidente Jair Bolsonaro começou nesta semana a ganhar a adesão
de integrantes de peso da direita brasileira, que deixaram antigas rixas de lado e passaram a se reunir para planejar uma agenda de atos contra o governo.
É o caso da liderança do Movimento Brasil Livre (MBL), representada na figura do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), com um dos principais porta-vozes da greve dos caminhoneiros,
o deputado federal André Janones (Avante-MG). Os dois irão participar juntos de um evento para anunciar a manifestação da “direita anti-bolsonarista” nesta quinta-feira, dia 8, ao lado de lideranças do Vem pra Rua (Celina Ferreira), do partido Novo (João Amôedo), do Cidadania (Roberto Freire) e do PSL (deputado federal Junior Bozzella).
Até o ano passado, o MBL e Janones eram adversários nas redes sociais.
O movimento de jovens neoliberais que se celebrizou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff sempre foi um crítico ferrenho dos atos de paralisação
dos caminhoneiros. Janones, por sua vez, se popularizou por sua atuação em prol dos caminhoneiros, que fizeram uma grande greve durante o governo Michel Temer, e se dizia alvo de fake news do MBL. Agora, eles se juntaram na oposição a Bolsonaro.
“Não estou unido com o MBL, estou unido com o povo que clama por auxílio no bolso e vacina no braço. E não me alio a movimentos como CUT e tantos outros que possuem apenas projeto de poder. Não me deixaria ser usado por quem busca o poder pelo poder.
O foco não é simplesmente tirar o Bolsonaro para colocar um corrupto. O foco é a construção de um novo país”, diz Janones a VEJA. “Para derrubar
Bolsonaro, precisamos falar com o eleitorado dele que foi traído. O governo hoje se sustenta apenas por uma articulação frágil com o Centrão”, acrescenta Kataguiri.
À frente do planejamento, o MBL também tem conversado com alguns senadores em evidência na CPI
da Pandemia para levá-los à cerimônia, como Simone Tebet (MDB-MS), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), mas eles ainda não confirmaram presença.
“Eu tenho defendido nas reuniões que temos que resgatar um movimento semelhante ao dos ‘caras-pintadas’ (que culminou com o impeachment de Fernando Collor). Todos unidos em torno de uma só bandeira, que é pressionar Arthur Lira (presidente da Câmara) e retirar Bolsonaro, que tem atuado de forma letal na gestão da pandemia e lesiva nos cofres públicos”, diz o deputado Bozzella, que é vice-presidente do PSL e participou da manifestação realizada no último sábado, dia 3.
A data do protesto é guardada em segredo até o evento — o que até já suscitou piadas na internet do gênero “o dia D e a hora H” da direita anti-bolsonaro , mas parte dos participantes já diz que o ato deve ocorrer ainda em julho. A esquerda já tem manifestação agendada para o dia 24 de julho. A ideia de fazer um protesto separado da direita e
centro-direita ganhou força depois que militantes do Partido da Causa Operária (PCO) tentaram impedir a presença de filiados do PSDB no ato do último dia 3 na Avenida Paulista , no centro de São Paulo. Impedidos por manifestantes de outros movimentos de esquerda, que tentaram proteger os tucanos, eles acabaram partindo para o confronto físico, com troca de socos e chutes.
As agressões chegaram a ser repudiadas pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que se solidarizou com os militantes do seu partido.
Na semana passada, lideranças políticas de ideologias completamente opostas apresentaram na Câmara o que foi chamado de “superpedido de impeachment” contra o presidente Jair Bolsonaro. O anúncio contou com a presença conjunta da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), Kim Kataguiri (DEM-SP) e Joice Hasselmann (PSL-SP).
Apesar da união da esquerda e de parte da direita contra Bolsonaro, um processo de impeachment neste momento é tido como bastante improvável, uma vez que o presidente tem o apoio de boa parte do Centrão e dos comandos da Câmara e do Senado.
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