A insatisfação com a BR do Mar não seria o único fator determinante para uma eventual paralisação. O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de São José dos Pinhais (PR) e também presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Plínio Dias, elenca outros nove motivos para a categoria cobrar do governo. E sinalizou um dia para a categoria cruzar os braços em protesto por melhores condições de trabalho: 1º de fevereiro de 2021.
O CNTRC é uma entidade nova, que diz representar sindicatos, associações e cooperativas em 22 estados. Ela tem uma página na internet, ainda em manutenção, e 99 seguidores no Facebook. Caminhoneiros e pessoas próximas do ministro da Infraestrutura dizem à Gazeta do Povo que a instituição não tem representatividade.
De toda forma, circula em grupos de transportadores autônomos um vídeo em que Dias afirma que a diretoria decidiu apoiar os “caminhoneiros que queiram ir para a pista fazer sua mobilização e paralisação a partir de 1º de fevereiro”. Além das críticas à BR do Mar, “lei que foi enfiada goela abaixo pela Câmara”, diz o presidente da CNTRC, ele cita outras demandas:
CIOT Para Todos: ampliação do Código Identificador de Operação de Transporte (CIOT) não só para o transportador autônomo, mas também para as transportadoras;
Direito à estadia: descriminalização da Lei 13.103/15, sobre as estadias aos caminhoneiros;
Contratação direta: estratégias para viabilizar a contratação direta do caminhoneiro autônomo pelo embarcador;
Óleo diesel: discussão da política de preço da Petrobras, que, para os caminhoneiros, pode mudar para reduzir o custo do diesel;
Aposentadoria especial: a categoria exige um marco regulatório com regras de aposentadoria diferenciadas;
Pernoite: maior fiscalização sobre os combustíveis em postos que oferecem estadias para os caminhoneiros;
Fiscalização: maior rigor da ANTT sobre a fiscalização de transportadoras, que, segundo os autônomos, “fazem o que querem, não pagam frete, estadia, nada”;
Frete de sucatas: a categoria exige a revisão de duas resoluções, uma sobre o transporte de sucata e outra sobre o transporte de cargas de sólidos a granel com lona em vias abertas; e
Jornada de trabalho: maior fiscalização da jornada de trabalho e exigência de pontos de parada para seu cumprimento.
Divergências de demandas entre caminhoneiros dificultam greve
As demandas cobradas pela CNTRC não encontram, contudo, respaldo entre todos os caminhoneiros autônomos. São essas divergências dentro da categoria que aprofundaram a divisão entre eles.
Um exemplo são os pedidos por mudanças na política de preços da Petrobras. Fundador do Comando Nacional do Transporte (CNT), Ivar Schmidt, que liderou a greve dos caminhoneiros de 2015, discorda da pressão por interferências no preço do óleo diesel.
Schmidt, que hoje se mantém neutro e não lidera mais a categoria — embora seja ainda influente e ouvido por muitos caminhoneiros — espera que o governo não tome nenhuma atitude em relação a mudanças na política de preços da Petrobras.
“Acredito que subsídio não tem que existir. O que está errado é a oferta demasiada de caminhões no mercado, e é isso que fez com que ocorresse esse desequilíbrio em relação à demanda, resultado nos baixos fretes”, sustenta. Schmidt é favorável à fiscalização e cumprimento da jornada de trabalho, que, para ele, ajudaria a regular a oferta e, assim, elevar o preço do frete.
A cobrança por um óleo diesel mais barato, contudo, é compreensível, avalia Schmidt. Mesmo assim, ele não acredita na possibilidade de uma greve porque ainda vê os caminhoneiros muito atrelados ao sentimento do “bolsonarismo”. “A maioria deles é [apoiadora do presidente Jair] Bolsonaro e não abre mão disso”, justifica.
Porém, ele alerta que isso não garante ao governo uma salvaguarda contra paralisações. Um aumento do diesel poderia ser o gatilho de uma greve. “Quero crer que o estopim não vai surgir do não atendimento de algumas reivindicações. Vai surgir do aumento continuado do óleo diesel, que é o que impacta mais a categoria”, adverte.
Sem um excessivo aumento do diesel, Schmidt não acredita em uma greve. A divisão da categoria se evidencia em muitas demandas que, para ele, são absurdas. Ele cita como exemplo pedidos de uma linha de crédito subsidiada do BNDES para financiar a compra de caminhões novos a autônomos cujos veículos tenham mais de 20 anos de uso.
“O governo rompeu com parte dos caminhoneiros porque alguns já estavam se achando no direito de pedir coisas absurdas. Foram lá pedir isso, como se o governo tivesse a obrigação de pagar caminhão novo para quem tem caminhão velho”, critica.
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