O que pensam líderes caminhoneiros sobre uma nova greve.


O caminhoneiro autônomo Janderson Maçaneiro, mais conhecido como Patrola, é um dos líderes com quem Freitas mantém contato. O condutor avalia vê chance remota de paralisação. “O autônomo e até o celetista podem iniciar, bem como as empresas. É sempre possível”, diz, completando em seguida: “No cenário que temos hoje, não acredito. Justamente por conta da divisão entre as lideranças, da atmosfera que está sendo criada”.

Patrola, que atua no segmento portuário de Itajaí (SC), avalia que uma greve nacional só se concretiza se as lideranças estiverem todas alinhadas, como ocorreu em maio de 2018. “E isso não está acontecendo. Tem pessoas divididas. Por isso, não acredito em uma greve dos caminhoneiros”, diz. Ele esclarece, contudo, que, as “portas abertas” com o ministro são fruto de uma relação estritamente profissional.

“Eu converso com o ministro, mas ele não é meu amigo. É mais ou menos assim: ‘Bom dia [Patrola], dá uma olhada nisso aqui, o que acha dessa situação’. Eu leio e dou minha opinião. Pedi voto para Bolsonaro e a categoria ajudou a eleger o presidente, mas, se amanhã, [o governo] fizer algo que nos desagrade, vamos dizer que não elegemos ele para fazer isso”, diz Patrola.

O governo tem conhecimento de tudo isso com base no monitoramento do Sisbin e nas conversas do próprio Freitas com os caminhoneiros. Um dos motivos que escancarou essa divisão foi a aprovação do projeto de lei da “BR do Mar”, que cria incentivos à cabotagem, ou seja, ao transporte de cargas entre portos brasileiros.

O governo trabalhou na Câmara dos Deputados para aprovar a “BR do Mar”, em regime de urgência, e isso irritou ainda mais alguns líderes já contrários ao texto. Para entrar em vigor, a proposta ainda precisa ser analisada pelo Senado e sancionada por Bolsonaro, o que só deve ocorrer em 2021.

“A situação [do projeto] levantou algumas lideranças que estavam desaquecidas, que aproveitaram para ampliar a insatisfação e começaram a ‘surfar’ nessa onda”, analisa Patrola. “É isso o que fez o governo fechar as portas para alguns. Na minha opinião, o governo aceita críticas, teria sido tolerante se tivessem sentado e conversado. Mas não aceita alguns desses líderes irem criticar na imprensa e nas redes sociais, ‘sentarem o pau’ e, depois, pedirem para ‘abrir a porta’ para conversar”, acrescenta.

Segundo os relatos de bastidores, um dos líderes caminhoneiros com quem Freitas rompeu foi justamente Wallace Landim. À Gazeta do Povo, Chorão afirma desconhecer a informação. “Eu não sei se ele rompeu comigo ou com a associação [presidida por ele, a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores], a Abrava, porque a gente defende a categoria. Se precisar bater na porta, nós vamos bater na porta, independentemente de qualquer coisa”, pondera.

Chorão entende que Freitas tem de atendê-lo enquanto representante da Abrava, e não atender apenas a CNTA – na terça-feira (15), o ministro da Infraestrutura recebeu representantes da confederação fora da agenda oficial. “Lá, vou bater pela Abrava e não tem por que ele não atender. Agora, ele tinha me falado há algum tempo atrás que romperia com algumas pessoas e até me coloquei à disposição dele. Ele sabe quem trabalha pela categoria e quem não trabalha”, comenta o caminhoneiro.

O motivo da insatisfação de Freitas com Chorão é atribuído às declarações feitas pelo caminhoneiro à imprensa, de que o governo “traiu” a categoria. Ao jornal “Estado de São Paulo”, o líder contou que a ideia de uma paralisação começa a ser discutida. À Gazeta do Povo, ele reforça o que disse.

“Claro que existe a possibilidade de greve. A categoria está sofrendo, ela está no limite. Eu estou rodando os estados, conversando com as lideranças, explicando o que aconteceu e, daí para a frente, quem delibera é a categoria”, afirma. “Nós estamos falindo, e a gente tem um monte de frente de trabalho que buscamos e não está funcionando.”


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